Apesar da poderosa máquina do governo federal, do orçamento secreto com bilhões de reais nas mãos de aliados, do pacote eleitoral de bondades que incluiu a redução do preço dos combustíveis e o aumento do Auxílio Brasil, da campanha indisfarçável de igrejas evangélicas, do poder econômico do agronegócio e da Faria Lima, Lula venceu no primeiro turno com mais de 6 milhões de votos à frente de Bolsonaro. Faltou apenas 1,57% para se eleger presidente no domingo passado.
A vitória de Lula é fenomenal. É um feito histórico no Brasil. Ele conseguiu a maior votação da história em primeiro turno. E mais: na frente do atual presidente da República e candidato à reeleição. Outro feito inédito. Mais espetacular ainda porque ele também venceu, na prática, a escancarara e poderosa máquina de compra de votos do governo Bolsonaro.
E por falar em compra de votos, o orçamento secreto comandado pelos aliados de Bolsonaro fez (coincidentemente) uma grande bancada bolsonarista no Congresso Nacional. O PL, partido do presidente, fez a maior bancada. É óbvio, também, que o voto é muitas vezes casado, e Bolsonaro também se beneficiou do esquema. O mensalão e o petrolão são fichinhas perto do orçamento secreto, o mecanismo que distribui dinheiro com os parlamentares governistas, sem critérios técnicos, para investimentos em municípios e estados.
Mas voltando ao tema principal, o resultado da eleição, sabia-se que era muito difícil vencer no primeiro turno. Mas Lula quase chegou lá, faltou muito pouco. Com esse feito nas mãos, ele chega ao segundo turno como franco favorito, sobretudo porque o primeiro turno mostrou a gigantesca rejeição de Bolsonaro. Mais de 56% dos votos válidos foram dados aos candidatos de oposição.
Lula ganhou na maioria dos municípios brasileiros. Foi vitorioso em 3378, e Bolsonaro, em 2192. Com 100% das urnas apuradas, Lula obteve 57,2 milhões de votos (48,43%), e Bolsonaro, 51 milhões (43,20%). Reverter esse placar vai ser muito difícil. Até porque Bolsonaro não tem um bom governo para mostrar e ainda carrega nas costas a trágica gestão da saúde na pandemia, que matou quase 700 mil brasileiros.
Agora vamos voltar um pouquinho no tempo. De 2018 pra cá, podemos dizer que Bolsonaro pouco cresceu em número de votos, e o PT agigantou-se. Bolsonaro obteve 49,2 milhões de votos no primeiro turno (46,03%). Agora, em 2022, aumentou apenas 1,8 milhão de votos e percentualmente caiu.
Já Lula tem um cenário oposto ao de Bolsonaro, um gigantesco crescimento. Os votos do petista foram para Haddad, que obteve 31,3 milhões (29,28%) no primeiro turno. Agora em 2022, Lula obteve 25,9 milhões de votos a mais que Haddad, escolhido candidato porque o ex-presidente foi impedido pela justiça. Claro que comparar eleições diferentes em conjuntaras diferentes não trará uma resposta exata, precisa. Mas é um dado que não pode ser desprezado.
Ou seja, não adianta espernear, brigar contra a lógica. Lula é o grande favorito no segundo turno de 2022. O antipetismo elegeu Bolsonaro em 2018, e a rejeição a Bolsonaro deve eleger Lula em 2022.
No presente, Lula conseguiu uma frente ampla de apoios. Correntes políticas e ideológicas historicamente adversárias do PT estão com ele. Outro feito inédito na política brasileira. A rejeição a Bolsonaro uniu os diferentes.
Além de tudo isso, Lula tem o placar a seu favor. É falso afirmar que o jogo está zerado. O segundo turno é uma continuação do primeiro. Os votos nas urnas estão zerados, mas o jogo eleitoral, não. Lula está na frente. Bolsonaro pode virar o jogo? Pode. Ainda faltam 26 dias para a eleição, mas a probabilidade é muito pequena, diria mínima.
Mais um ponto a favor de Lula: naturalmente, a saída de Simone Tebet e Ciro Gomes, que juntos obtiveram 7% dos votos, com ou sem apoio declarado deles, beneficia o campo da oposição ao governo.
A conjuntura atual, portanto, favorece mais Lula, o primeiro lugar. Em eleição presidencial, nunca houve uma virada. Até a história favorece quem vence o primeiro turno. Outro detalhe: como está na frente, Lula também deve atrair o apoio de forças políticas e de eleitores que sempre seguem a direção do vento. Bolsonaro nada contra a maré.
Outro dado importante: Lula teve uma votação gigantesca em estados do Sul, do Sudeste e do Centro-Oeste, regiões onde Bolsonaro ganhou. Em Minas Gerais, segundo maior colégio eleitoral do país, Lula venceu. E aqui vai mais um dado histórico: todos os presidentes eleitos ganharam no estado mineiro.
Nesta conjuntura, o fato é que Lula está a poucos passos da vitória. E Bolsonaro está tendo que recorrer a respiradores artificiais para oxigenar sua campanha. Talvez esteja aí a explicação para ele ter deixado faltar oxigênio em Manaus, na pandemia.
(Allysson Teotonio)
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