O moralismo é falso. Sempre foi. O moralismo é estratégia política e eleitoral da direita e da esquerda. O povo adora o discurso moralista, é majoritário, é senso comum, mas o próprio povo não consegue aplicar a teoria na prática. Assim como os políticos.
A denúncia de corrupção na compra da vacina Covaxin não nos deixa mentir. Não há barulho dos bolsonaristas agora porque o governo é de Bolsonaro. Se fosse do PT, haveria barulho ao surgir o primeiro indício, sim. Não há barulho agora por questão de sobrevivência política e ideológica. Só por isso.
Evidenciar o silêncio dos petistas no passado em casos semelhantes, como se fosse uma desculpa para tentar justificar o silêncio dos bolsonaristas no presente, é uma furada. Apenas coloca ambos no mesmo balaio.
A outra estratégia do bolsonarismo é dizer que o denunciante é um vigarista. Tática antiga essa, a de tentar desqualificar o autor da denúncia para enfraquecê-la. Como se a vida pregressa do denunciante fosse capaz de inocentar o governo dos seus supostos crimes. Postura covarde. Mas o denunciante é um aliado, é alguém que estava no mesmo barco. Vai ser difícil transformar em inimigo aos olhos da opinião pública.
A coisa está ficando feia. E a história nos ensina que as revelações devastadoras surgem dos aliados, e não dos adversários. O irmão Pedro, que detonou o governo Collor, e o deputado aliado Roberto Jefferson, que denunciou o mensalão do PT. Ambos fizeram grandes estragos.
Fazer barulho agora, portanto, é essencial para o Brasil, mas pode ser um tiro mortal no governo. Os moralistas de hoje optaram pelo silêncio para não prejudicar o governo que os representa. Ou seja, a disputa é política, nunca foi moral.
Bolsonaro, a princípio, prevaricou. Por enquanto é um forte indício. E somente o barulho será capaz de pressionar por uma investigação que possa revelar o suposto crime e os responsáveis por ele. Caso contrário, o caso vai para a gaveta. O silêncio não será capaz de fazer nada, apenas deixará os moralistas do presente iguais aos moralistas do passado. E só.
Em cima do muro, não!
Isentão, eu? Sou nada. Eu tenho lado, não fico em cima do muro. Considero o ideário de centro-esquerda o melhor caminho político para o Brasil. É perfeito? Não. É o suprassumo do moralismo? Nunca foi, também tem suas bravatas e seus crimes imperdoáveis. Mas sua essência é transformadora, é a mais solidária, é a que mais se aproxima da distante justiça social que nunca existiu plenamente no Brasil. Os crimes cometidos por alguns atores não transformam em criminoso esse ideário. Os criminosos são os atores.
Santo, eu? Sou nada. Ninguém é santo. Deus me livre de ser santo, seria um tédio. Quem posa de santo é Bolsonaro, é o tal “cidadão de bem”, que foi às ruas denunciar a corrupção do PT, mas hoje está caladinho, passando a mão na cabeça do seu bichinho de estimação. A deputada mandou matar o marido, o vereador matou o filho da esposa. O mundo está cheio de “cidadãos de bem” da boca pra fora.
No momento só existem dois lados. E não se trata de escolher o esquerdo ou o direito. É vida ou morte. É vacina ou cloroquina. Ou pega carona na moto do presidente desgovernado ou tenta colocar o país em um caminho mais seguro para todos. Bolsonaro é o pior piloto da história. Pule da moto. Ainda há tempo. Antes que se esborrache no chão.
Allysson Teotonio
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